A revisão ortográfica do livro
Para sanar pequenos e grandes erros | Série: Como se faz um livro
Vírgulas erradas, erros de digitação, concordância, ortografia. O trabalho do revisor ortográfico é identificar esses tropeços com seus olhos de lince e corrigir um por um, para que o livro fique realmente pronto. Mas ele também pode fazer sugestões e apontar equívocos que, aos olhos do autor ou autora, acostumados ao texto, passam despercebidos. Oasys Cultural convidou Caroline Joanello, doutoranda em Escrita Criativa pela PUC-RS e revisora profissional no Baubo – para explicar a importância de seu trabalho.
O que faz, exatamente, o profissional responsável pela revisão ortográfica de um livro?
C: Ao receber o manuscrito, o/a revisor/a faz uma varredura atrás de problemas de digitação, de grafia, de pontuação e de regência (verbos, pronomes, plurais, advérbios). Além disso, deve complementar algumas informações, como referências bibliográficas — ver se nome de livro e de autor/a estão corretos; checar pontuação, também, de citações e olhar com atenção a página de créditos e índice catalográfico. Fundamental: deve apontar quando alguma frase está com problemas de entendimento ou de ambiguidade, mas quem escreve pode deixar passar. A imersão no texto provoca pontos cegos, e é por isso que é bom ter “olhares frescos” em cima da obra.
Em que etapa da produção editorial de um livro se insere a revisão ortográfica?
C: A revisão ideal acontece após a preparação de texto do livro e a inclusão dos paratextos. Porque até esta etapa, o texto pode sofrer alterações significativas, e então acontece um retrabalho, já que tudo precisa ser revisto. Inclusive o conteúdo da capa e da orelha. Uma segunda revisão deve vir depois do livro diagramado. O ideal é que este seja um segundo profissional, mas muitas vezes as editoras não têm verba para isso.
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Qualquer pessoa que conheça bem a Língua Portuguesa pode fazer revisão ortográfica? Caso não, quais são os atributos ou qual a formação necessária para exercer essa função com excelência e propriedade?
C: Conhecer bem a língua é uma característica imprescindível. Também é fundamental saber as regras do (já não tão) novo acordo ortográfico, principalmente se a pessoa foi educada no acordo antigo. Mas é importante ser flexível e pensar no texto como um todo: ritmo, estilo de autoria, projeto literário, e pensar no público. Por exemplo, um livro didático não pode escapar da norma padrão, já um livro de poesias tem muito mais liberdade. Outra característica fundamental é o desconfiômetro. Verificar nomes, mesmo que quem escreveu seja expert no assunto. Equívocos acontecem.
Revisão ortográfica é um serviço considerado caro e, por isso, muitos autores e editoras independentes deixam de contratar profissionais especializados por uma questão de economia. O que acha disso?
C: Acho uma pena. O texto mal revisado passa uma imagem de amadorismo, descuido, o livro perde credibilidade e, por conseguinte, a editora e o/a autor/a. Além disso, livros são fonte de referência para as transformações da língua, seja em termos gramaticais, seja em termos de ressignificação ou incorporação de palavras novas. Sem a revisão — uma boa revisão — o livro perde a oportunidade de fazer parte desta transformação, pois se torna um material “duvidoso”.
A inteligência artificial vem ameaçando diversas profissões com a perspectiva de substituir o trabalho feito por pessoas por aplicativos e programas etc. Acredita que será esse o caso da revisão ortográfica?
C: Acho que não, pois a revisão precisa se adequar ao projeto literário que, muitas vezes, foge à norma padrão. Além disso, muitas normas gramaticais dependem de interpretação de texto. Talvez no futuro a IA tenha mais capacidade interpretativa, ou os sistemas de IA pagos, que são mais avançados, se tornem mais acessíveis. Mas literatura é sensibilidade, mesmo nesta parte mais técnica, e duvido que qualquer IA seja capaz de entender subtextos, ironias, ou mesmo erros propositais.
Como é o mercado de trabalho, atualmente, para revisores no Brasil?
C: Sei que existe que o mercado editorial brasileiro está em crise, com números em queda. Em função disso, as editoras estão enxugando suas estruturas, e muitas deixaram de ter revisore/as fixo/as na casa. Se por um lado isso aumenta a distribuição de trabalho, por outro precariza esse trabalho.
Como é possível se candidatar a fazer revisão ortográfica para uma editora? Como recomenda que seja essa abordagem?
C: Acho que a maneira mais simples, se a pessoa não tem repertório ainda, é se propor a fazer um teste, num contato por e-mail honesto e simpático, se colocando à disposição. A maioria das editoras é superaberta a receber este tipo de contato. Começar pelas editoras menores também é um bom passo, já que são as que mais precisam de profissionais freelance para resolver esta parte.
Caroline Joanello tem diversos contos publicados em antologias e revistas, foi uma das organizadoras da antologia “Vigílias”, lançada em 2021. Em 2020, foi uma das vencedoras do Edital Arte como Respiro – Literatura – Itaú Cultural.
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Com carinho,
Valéria Martins | Agente Literária da Oasys Cultural
Carol foi minha colega de mestrado. É uma ótima profissional!