Na oca-mãe fomos defumados, frente e costas, várias vezes. O xamã vinha com o caldeirãozinho e uma comprida pena preta, e aspergia a fumaça sobre nós. Depois, uma sessão de canto e dança para a qual fomos convidados a participar com chocalhos e outros instrumentos tradicionais de um grande cesto. Dançamos em círculo, batendo os pés no chão e cantamos. Isso durou bastante tempo – era a preparação para a consagração do rapé.
Finalmente, nos sentamos no chão e os indígenas trouxeram um pequeno cesto de lixo para a frente de cada um de nós – para o caso de passar mal. “Aqueles que não quiserem participar, basta sair da roda. Podem ficar na oca, mas fora da roda”, ordenou o xamã.
Ele explica que o rapé não é alucinógeno. É uma combinação de ervas secas e maceradas que serão inaladas com o propósito de equilíbrio do corpo e da alma. Não é uma droga e nunca é usado para “ficar doidão”. Quem busca com essa finalidade se dá mal.
Uma indígena jovem se agacha na minha frente com um cachimbinho com duas hastes. Uma será colocada na minha narina, a outra em sua boca, para soprar:
- Não inspire quando eu soprar, tá? – diz com voz doce.
Um jato de algo como raiz forte entra firme pela narina direita, atinge o cérebro, os olhos ardem.
- Agora a outra. Precisa ser nas duas.
Minha tela mental se tinge de vermelho, os indígenas cantam e dançam e tocam instrumentos, tudo converge para uma espécie de parada mental em que os pensamentos desaparecem e somente os sentidos permanecem ativos, concentrados no momento presente, a música ritmada, os cantos pataxós.
Um choro sentido vem e passa, sem motivo claro.
Aos poucos as pessoas se levantam e se unem aos músicos no centro da oca. Formamos várias rodas, uma dentro da outra, todos cantando e batendo os pés no chão por muito tempo, um tempo que eu não saberia medir.
Naquela mesma noite, um sonho com minha mãe, falecida há pouco mais de um ano, me fez entender por que eu havia ido até ali.
Por que eu narro tudo isso para vocês? Porque escrever é o que eu mais gosto de fazer.
Porque foi uma experiência tão rica que senti vontade de compartilhar. Porque meu novo romance ainda é embrionário, levará tempo, alguns anos, até eu finalizar a escrita e revisar, revisar, revisar, enviar para leitura crítica, entregar a leitores-beta e finalmente publicar. Porque a realidade é apenas base de pesquisa para a imaginação trabalhar, modificar, recriar. Porque escritores são como deuses capazes de criar e destruir o que quiserem. Liberdade total.
Prêmio Kindle Vozes Negras
A primeira edição do Prêmio Kindle Vozes Negras, promovido pela Amazon em parceria com a Companhia das Letras, oferece R$ 35 mil em adiantamento de royalties para a(o) vencedora(o) e a publicação do livro pelo grupo editorial. Podem concorrer pessoas negras – grupo composto por pessoas autodeclaradas pardas e pretas – que escrevem o gênero Ficção. As obras precisam ser inéditas. Os finalistas terão suas obras convertidas para audiolivro pela Audible Brasil. O vencedor ou a vencedora será revelado na cerimônia de premiação, prevista para novembro de 2025. Prazo: 31 de março de 2025. Inscrições gratuitas aqui
(Extrair imagem do site)
“O que não existe mais”, de Krishna Monteiro, publicado na Romênia
Acaba de ser publicada na Romênia a tradução do volume de contos "O que não existe mais", do escritor brasileiro agenciado da Oasys Cultural, Krishna Monteiro. O livro foi publicado em 2015 no Brasil, pela Editora Tordesilhas; em 2020 na França e foi duas vezes finalista do Prêmio Jabuti – Melhor Livro de Contos e Melhor Livro Brasileiro Traduzido no Exterior. A realização é uma parceria entre a Oasys Cultural e o agente literário Stephane Chao. Parabéns a tod@s @s envolvid@s!
Prêmio Prata da Casa
Este concurso literário é voltado para contos, crônicas e poesias – textos avulsos –portanto, não é necessário estarem reunidos em um livro para participar. Tampouco é requerido o ineditismo das obras. A premiação oferece R$ 45.000,00 aos vencedores distribuídos da seguinte forma: R$ 7.000,00 ao primeiro colocado em cada categoria; R$ 5.000,00 ao segundo colocado em cada categoria; e R$ 3.000,00 ao terceiro colocado em cada categoria. Taxa de inscrição: R$ 70 reais. Prazo: 17 de fevereiro de 2025. Inscrições aqui.
Escritoras travestis
29 de janeiro foi o Dia Nacional da Visibilidade Trans - essa data só podia ser “aquariana”! Ler livros de escritoras trans é um exercício de empatia que nos faz entender seu universo e sentir na pele suas dores, alegrias e prazeres. Vale muito! Conheça algumas sugestões da Oasys Cultural:
Aniversário da agente
31 de janeiro foi o aniversário da agente literária Maria Valéria Martins - sim, ela tem “Maria” na frente e o nome é o mesmo de um dos personagens de “O tempo e o vento”, de Érico Veríssimo. Ligada à literatura desde a raiz! Selecionamos algumas curiosidades para mostrar outras facetas da profissional do livro que também é mãe, escritora e musicista. Conheça:
O trabalho da Oasys pelas lentes dos nossos clientes
Quais resultados os clientes da Oasys colhem? Nada melhor do que entender a partir da vivência deles, por isso convidamos alguns clientes para um feedback sincero sobre como nosso trabalho tocou cada um deles. Confira o que disse Luciana Lachini:
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Até a próxima!
Com carinho,
Valéria Martins | Agente Literária da Oasys Cultural
Que aperitivo saboroso do romance vindouro!