A região de Porto Seguro, Trancoso e Caraíva é, até hoje, território indígena. Apesar do turismo e do crescimento das cidades, eles estão em toda parte. Reserva da Jaqueira, Reserva Porto-do-Boi, Xandó, Aldeia Mãe de Barra Velha são algumas das localidades onde vivem e trabalham.
As aldeias são hoje cidades. Indígenas, há muitas décadas, vivem em casas de alvenaria e não mais em ocas. Tem mercadinhos, lojas de material de construção, academia de ginástica. Mas, num esforço de organização, à moda do que fazem os indígenas norte-americanos, reservaram uma área de seu território para receber turistas. Nesses lugares, tudo é “como antigamente”. Significa floresta preservada, chão de areia e uma grande oca onde realizam palestras e rituais de purificação – e cobram para isso. Uma forma criativa e útil de sobrevivência.
Após pesquisar bastante, elegi a Reserva Porto-do-Boi, para conhecer. Ficamos hospedadas em Caraíva, eu e minha amiga de infância Christine Kemmelmeier, e contratamos um bugreiro para nos levar à reserva. São apenas 12 quilômetros, mas o valor é salgado: R$ 250 reais (ida e volta).
Nosso motorista foi o Pajé, casado com uma branca, pai de família, residente em Barra Velha. O nome não é à toa: ele também se organiza para encontrar um terreno só seu a fim de receber turistas e realizar rituais com ayahuasca, cuja matéria-prima, os cipós jagube e chacrona, abundam na região.
Chegamos em uma propriedade cercada de paliçada (à moda do “Forte Apache”), com um grande cartaz no alto – Oca-Mãe, Reserva Porto-do-Boi –, e fomos recebidas por indígenas que vestiam adereços típicos da etnia: rosto e corpo pintados, saias de fibra de folha de palmeira, adereços feitos de penas coloridas, miçanga, lágrimas-de-nossa-senhora e sementes de pau-brasil; adereços com penas, cocares, alargadores de orelha de bambu. Valor da entrada: R$ 130 reais.
Murici – forte, malhada, unhas da mão e pé pintadas de vermelho, dona de uma linda voz, como ouvimos mais tarde – ficou responsável por nós dar as boas-vindas e explicar o que aconteceria naquela manhã que passaríamos juntas.
Primeiro, houve pintura corporal. Pudemos escolher em qual parte do corpo receber os desenhos: rosto, braços ou peito. Mulheres solteiras, as cores são mais vivas. Casadas, tons mais discretos. As tintas são basicamente vermelho (urucum), amarelo (argila das falésias ao longo do litoral) e preto (carvão moído com água e açúcar).
Depois, fomos todos – cerca de 50 pessoas – para a oca-mãe, bem grande e larga e sólida. Os indígenas espalharam esteiras de palha sobre o chão de terra batida, para nos sentarmos. No centro, um pequeno caldeirão com brasas emanava o cheiro forte de ervas. Esse local foi palco de uma longa palestra do xamã sobre a cultura Pataxó, seus costumes, alimentação, história – os portugueses foram invasores, e não descobridores – e também uma explanação sobre a consagração do rapé, para a cura do corpo e da alma, ao qual seríamos submetidos em seguida.
“Nada acontece por acaso e não é por acaso que cada um de vocês chegou até aqui hoje. Muitas pessoas gostariam de viajar, mas não tem dinheiro. Outras estão em cima de uma cama, doentes. Mas vocês vieram e logo vão saber o que os trouxe até aqui. Podem não saber imediatamente, mas dentro de um ou dois dias, vão saber. Essa verdade vai chegar para vocês”.
(Continua)
(Terceira e última parte na próxima edição)
Prêmio Barco a Vapor
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Editores das grandes casas editoriais fazem suas previsões para 2025
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A frase da escritora Maria José da Silveira que colocamos no post abaixo se choca com o resultado da pesquisa Retratos da Leitura do Brasil: 74% dos brasileiros não leram um único livro até o fim em 2024. Como resolver esse gargalo? Como ser escritora ou escritor no Brasil? Convidamos vocês a responder nos comentários do post:
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Convidamos Elton Frederick, autor do romance “A vida breve dos cães” (Ed. Mondru), para um breve depoimento sobre o trabalho de divulgação da Oasys Cultural para com seu livro. Assista e entenda como a Oasys Cultural também pode ajudar o seu trabalho.
Até a próxima!
Com carinho,
Valéria Martins | Agente Literária da Oasys Cultural
Que bom que gostou! Vindo de você... Me sinto honrada! Obrigada
que relato DELICIOSO! Banquete literário, Valéria!