Ser escritor significa amar livros e leitura acima de (quase) tudo. Trabalhar para ganhar a vida fazendo outras coisas, mas a cabeça está sempre pensando nos livros – ou que está lendo ou que está escrevendo: personagens, cenas, situações, desfechos. Após revisar inúmeras vezes, contratar leitura crítica, corrigir novamente, aperfeiçoar ao extremo, chega a hora de lançar, vender alguns exemplares e – no fim das contas – ser lido.
Mas por quem?
O primeiro público-alvo de qualquer artista – escritores, inclusive – é sua família, amigos, colegas de trabalho. Furar essa bolha requer muita energia.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, cujos resultados foram divulgados em novembro de 2024, jogou para baixo o ânimo de quem trabalha com livros. Pela primeira vez, o número de não-leitores superou o de leitores: 54%. No ano anterior, outra pesquisa –Panorama do Consumo de Livros no Brasil – já havia mostrado que apenas 16% da população brasileira compra livros.
O Brasil tem mais de 13 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever. A leitura não é estimulada na maioria das escolas – públicas e particulares. Professores ganham mal e não são preparados para formar leitores – os poucos que leem preferem livros de autoajuda ou religiosos.
Para complicar, o Brasil é um dos países mais conectados do mundo. Em 2024, o brasileiro passava, em média, 9h13 por dia online. É uma competição desleal: o livro não tem dancinhas, conversas, fofocas, memes, trends. Leitura requer tempo, silêncio, introspecção, mergulho, imaginação.
Nossa imaginação, infelizmente, está indo para o brejo, entulhada de conteúdo, e a preguiça mental é a nova epidemia.
“Elas serão extremamente literais porque o espaço da metáfora, da alegoria, da poesia, da filosofia, está sendo drasticamente reduzido” – Sidarta Ribeiro, neurocientista brasileiro, sobre o efeito das telas nas novas gerações.
Diante desse cenário – que não tem volta, é o tal progresso – precisamos ter em mente que escrever e ser lido é e será, cada vez mais, desafiador. Quem está disposto a continuar? Somente aqueles para quem o coração deseja forte. Esse é o seu guia.
Como disse Ágota Kristóf:
Rio de Janeiro – Capital Mundial do Livro
Dia 23 de abril, o Rio de Janeiro tomará posse como Rio Capital Mundial do Livro por iniciativa da Unesco. É a primeira vez que uma cidade de Língua Portuguesa recebe esta honraria. Uma cerimônia no Real Gabinete Português de Leitura, com a presença do prefeito Eduardo Paes e da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, formalizou a parceria entre o município e o governo federal para estabelecer ações e programas para a promoção do livro e da leitura. Várias ideias foram lançadas, mas ainda não há programação oficial.
Oasys recomenda: Portal da Crônica Brasileira
Um luxo é o Portal da Crônica Brasileira, iniciativa do Instituto Moreira Salles para o resgate da memória literária do nosso país. O site reúne mais de 10 mil crônicas do acervo da instituição – especialmente as publicadas em jornais nas décadas de 1950 e 60, período áureo do gênero – e as disponibiliza online, gratuitamente, para o público. Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino, entre outros, são retratados pelo artista Cássio Loredano e tem seus textos publicados lá. Acesse aqui.
Pressa em publicar?
Não adianta: ela acomete todos os escritores. Por mais que digamos: “não tenha pressa de publicar”, dá um siricutico, um desejo louco de expor suas ideias brilhantes, testar o gosto do público e lá vai. Até os escritores mais famosos, é comum dizerem em entrevistas: “meu primeiro livro, eu não o considero, eu era muito inexperiente”.
Clique no post abaixo com muita calma e entenda por que livros e pressa não combinam:
Você sabe falar sobre o seu livro?
Numa mesa de bar, te perguntam sobre o que é o seu livro e você gagueja... Oportunidade perdida de angariar um leitor. É preciso vender seu livro na ponta da língua. Saiba como assistindo ao vídeo com Valéria Martins:
Diário de uma leitora
O que seria de nós, escritores, sem eles? Em um país onde a leitura é pouco valorizada, acaba que escritores leem outros escritores. Mas existe uma classe de pessoas muito especiais: os leitores. Não escrevem, nem querem escrever nada. Gostam de ler, compram livros todo mês, emendam um livro no outro.
Convidamos a professora de jazz e sapateado Luciana Leitão, sócia-diretora da academia de dança Espaço 2L (RJ), a contar um pouquinho da sua experiência. Clique no post abaixo para saber como ela encaixa a leitura em seu dia-a-dia mega-agitado. Obrigada, Lu!
Vale a pena se inscrever em prêmios literários?
Veja o ponto de vista da agente literária Valéria Martins:
Até a próxima!
Com carinho,
Valéria Martins | Agente Literária da Oasys Cultural
adorei a introdução dessa news... uma reflexão importante. será que a gente precisa escrever pensando necessariamente que precisa ser lido? como atualmente estamos criando oportunidades de conversar, mas sobretudo de ouvir as pessoas?
não tenho respostas, mas adorei as provocações que essa edição me despertou. abração!